a fisionomia do esquecimento
(Clicar em PLAY, pf.)
Remembering (Avishai Cohen), Tiago Enrique
Ainda nem sabemos que há mais mundo
para além de nós e
já nos ensinam a fazer decalques
da vida com papel vegetal.
Ou a contornar a mão com um lápis.
Para depois a retirarmos e
ficarem os dedos lá espalhados no
papel, a dizer-nos que a
infância
vai ficar por ali.
Para o caso de a quererem
encontrar mais
tarde, arrumada e direitinha
entre os livros de uma estante,
escrevam a data
e o nome no canto da folha.
É como se nascêssemos para este ofício oculto
de decalcar a fisionomia do esquecimento.
E se calhar somos feitos de papel vegetal. Um dia
alguém
há-de vir contornar-nos o rosto
com a mesma interrogação com que as
mãos
de uma criança mexem nas flores abandonadas
por deus.
Joana Manarte
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