a mulher de branco


(clicar em PLAY, p.f.)
Ave Maria (Bach), Yo Yo Ma & Bobby McFerrin



à Marília




Às vezes começas na solidão. Continuas
a ser tu a verter-me leite nos olhos para me
acalmar a paisagem quando o futuro insiste
em rondar como um cão desconfiado.
Trazes a paz como um manto a cobrir-te
as costas. Pousas perto e mudas-me a roupa
à imaginação. Vou ao espelho. Acho que
fico bem assim, vestida de possibilidades.
"Ficas bem assim.", dizes.
Cheiras bem. O perfume tem massa
e se tem massa tem velocidade e os perfumes são
rápidos. Mas o perfume da aletria é tão imediato,
que ainda há pouco estava a fazer tranças com os
pensamentos e agora o mundo já me parece tão
possível como dantes e a solidão é, afinal,
só mais um sítio onde se pode pernoitar de quando
em vez.
Não percebo de onde trazes a claridade. Só sei que
hoje à noite a clarabóia é a janela de
uma nave espacial e eu deito-me
por baixo dela
de olhar fixo no silêncio,
sempre à espera de ver a Terra a aparecer
como quem sabe que a resposta vai estar no
vislumbre da centelha do que resta de luz.



Joana Manarte              

                       


                                                                                                                                                     Fotografia: Paulo Gaspar Ferreira



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