25 abril sempre
A cortina translúcida deixou entrar
a manhã sem pedir licença. À custa
de tamanha irreverência
a luz de abril entornou a primavera
no teu rosto. Dormias. Não há só
gaivotas em terra quando um homem
se põe a sonhar. Via-se bem a que
costuma desenhar-te a boca naquela posição
suspensa no horizonte de quem voa para um
destino que inventou longínquo
para não chegar. Eu bem que repreendia
o poema que batia na vidraça para que
não te acordasse, mas o que parecia ser
só mais um amanhecer virou revolução
de mil despertares e das penas do travesseiro
saíram centenas de pássaros de uma assentada.
Da novidade ficou a tua gaivota rubra a ensinar
a cor dos cravos e a janela para sempre aberta
a lembrar das aves que não têm dono.
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Joana Manarte
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Porto, 25 Abril 2018 |
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