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A toada de Vivian | 3

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(clicar em PLAY, p.f.) a caixa que mudou o mundo Joana Manarte Vivian Maier (sem data. New York, NY) O homem da rua fica só por teimosia não encontra companhia mas pra casa não vai, não Em casa a roda já mudou que a moda muda a roda é triste a roda é muda em volta lá da televisão No céu a lua surge grande e muito prosa dá uma volta graciosa pra chamar as atenções O homem da rua que da lua está distante por ser nego bem falante fala só com seus botões O homem da rua com seu tamborim calado já pode esperar sentado sua escola não vem, não A sua gente está aprendendo humildemente um batuque diferente que vem lá da televisão  No céu a lua que não estava no programa cheia e nua, chega e chama pra mostrar evoluções O homem da rua não percebe o seu chamego e por falta doutro nego samba só com seus botões Os namorados já dispensam seu namoro quem quer riso quem quer choro ...

a mulher de branco

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(clicar em PLAY, p.f.) Bach - Ave Maria by Yo Yo Ma & Bobby McFerrin on Grooveshark   Ave Maria (Bach), Yo Yo Ma & Bobby McFerrin à Marília Às vezes começas na solidão. Continuas a ser tu a verter-me leite nos olhos para me acalmar a paisagem quando o futuro insiste em rondar como um cão desconfiado. Trazes a paz como um manto a cobrir-te as costas. Pousas perto e mudas-me a roupa à imaginação. Vou ao espelho. Acho que fico bem assim, vestida de possibilidades. "Ficas bem assim.", dizes. Cheiras bem. O perfume tem massa e se tem massa tem velocidade e os perfumes são rápidos. Mas o perfume da aletria é tão imediato, que ainda há pouco estava a fazer tranças com os pensamentos e agora o mundo já me parece tão possível como dantes e a solidão é, afinal, só mais um sítio onde se pode pernoitar de quando em vez. Não percebo de onde trazes a claridade. Só sei que hoje à noite a clarabóia é a janela de uma nave espacial e eu d...

a fisionomia do esquecimento

(Clicar em PLAY, pf.) Remembering ( Avishai Cohen), Tiago Enrique  Ainda nem sabemos que há mais mundo para além de nós e já nos ensinam a fazer decalques da vida com papel vegetal. Ou a contornar a mão com um lápis. Para depois a retirarmos e ficarem os dedos lá espalhados no papel, a dizer-nos que a infância vai ficar por ali. Para o caso de a quererem encontrar mais tarde,  arrumada e  direitinha entre os livros de uma estante, escrevam a data e  o nome no canto da folha. É como se nascêssemos para este ofício oculto de  decalcar a fisionomia do esquecimento. E se calhar somos feitos de papel vegetal. Um dia alguém há-de vir  contornar-nos o rosto com a  mesma interrogação com que as mãos de uma criança mexem nas flores abandonadas por deus. Joana Manarte

a ilha

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(clicar em PLAY, p.f.) A Ilha (Djavan), Ogre Joana Manarte, 2014 Um facho de luz que a tudo seduz por aqui estrela cadente reluzentemente sem fim e um cheiro de amor empestado no ar a me entorpecer quisera viesse do mar e não de você um raio que inunda de brilho uma noite perdida um estado de coisas tão puras que movem uma vida e um verde profundo no olhar a me endoidecer quisera estivesse no mar e não em você porque seu coração é uma ilha a centenas de milhas daqui. Djavan

A verdade de cantar

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Chavela Vargas (1919 - 2012) Que se calem todos os sons da vida por um minuto para que o mundo possa ouvir para sempre o último suspiro de Chavela. Joana Manarte | 05.08.2012

Istambul

(clicar em PLAY, p.f.) chamamento para a oração em Istambul , recolha de áudio 2013 bem sei que era já noite escura lá, onde parece haver sempre luz e um horizonte fácil de imaginar por trás dos edifícios. o contorno dos prédios era nítido recortado contra aquele azul impossível. eu já nem sei a que cheirava o ar nessa noite mas era morno e fazia os corpos leves, até o lixo amontoado nos contentores parecia leve. havia sons de modernidade à solta buzinas, motores, electricidade, trânsito apressado, injustificado, noctívago. e acima da agitação, a pairar como um véu que convoca os mistérios mais antigos do Bósforo ouvia-se o chamamento para a oração cantado ininterruptamente de mesquita em mesquita como se a cidade fosse um só templo e aquela sequência uma passagem de testemunho feita pela voz de homens provavelmente perdidos entre a fé e o existir. as melodias espalhavam-se pelo céu de ...

Elo Hi (Meu Deus)

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(Clicar em PLAY, p.f.) Elo Hi , Goran Bregovic & Ofra Haza há lugares aonde deus tarda em chegar. Joana Manarte Campo de refugiados, Gaza 1960-70 (The Palestinian Museum) Gaza 2012 (Paul Hansen, World Press Photo)

ora

(clicar em PLAY, p.f.) Lonely Carousel , Rodrigo Leão & Beth Gibbons virada para dentro entro e nada na boca oca a mudez faz eco eco na cabeça vazia ia um pensamento alado lado que parece escultura cultura de pássaros sós ós lamentos que acontecem tecem ideias que demoram moram apoiadas em janelas nelas que nos viram para fora ora Joana Manarte
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                                          Amanheci com o sussurro das estórias que ficaram por contar.                                           A noite interrompeu-me o mundo. E agora?                                           Quantas vezes vais ter que parar o tempo                                           para colher as camélias que me sobram na boca? Joana Manarte Photo by Paulo Gaspar Ferreira

Ao Carlos

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(Clicar em PLAY, p.f.) Arriba Monte , Brigada Victor Jara Fotografia de Paulo Gaspar Ferreira Púcaros Bar, Novembro 2008 A galope um cavaleiro atravessava a noite. Inútil perguntar-lhe o que levava. Galopava. À desfilada atravessava noites, abismos, cidades. Não lhe perguntásseis de onde veio, aonde ia. Galopava. Furacão vingador, arcanjo desencadeado, que resta do que foste? Já não és fogo nem vento. És cinza, pó. Mas galopas. (Papiniano Carlos)