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A mostrar mensagens de dezembro, 2016

Se eu soubesse falar de amor

Se eu soubesse falar de amor, falava de guarda-chuvas como o Kusturica. Sempre gostei de guarda-chuvas. Talvez goste ainda mais de andar à chuva, mas sempre gostei de guarda-chuvas e do universo particular que nasce de cada vez que se abre um. Ele usava um guarda-chuva para se proteger das balas de uma guerra que não acabava nunca e à custa de um burro ágil e de um tecto de nylon impermeável ao ódio escapava ileso daqueles desentendimentos de chumbo a céu aberto, onde as bombas se cruzam com os pássaros. Se eu soubesse falar de amor, falava do leite como o Kusturica. Em cima do burro transportava vasilhas de lata cheias de leite, que só podia ser amor em estado líquido. Então ele andava com aquilo de um lado para o outro e nós ficámos com a ideia de que ele estava a levar a todos o alimento certo, até porque também foi por causa do leite que ele conheceu o amor dela. Acho que de desde que a viu - quando ela estava a ordenhar a vaca - o leite ficou ainda mais carregado do...